domingo, 2 de novembro de 2014
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Os anos não foram leves
Os anos
não foram leves, Vanessa
os anos
não deixaram
pedra
sobre
pedra
ao olhar para trás
talvez os anjos
não tivessem
dito
amém
talvez aquela esquina
não fosse assim tão desolada
talvez, não chegou a ser mesmo
o que já não era.
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Violino sobre tecido azul
Violino sobre
tecido azul
em roupão, ela
com olhar melancólico como
a vida
acordes subindo
já oração.
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
domingo, 27 de julho de 2014
terça-feira, 22 de julho de 2014
É voraz, a moça
Consumi o caderno de estudos
em poesias apressadas.
É voraz, a moça
como um buraco negro:
a musa pede,
ai de nós se não escrevermos.
domingo, 20 de julho de 2014
Ler histórias de fantasmas
Ler histórias de fantasmas
pode te fazer
refletir:
vida, perda, ganhos,
essas coisas
o que se passou
e jamais será
talvez dê arrepios
e, talvez,
faça pensar
que os fantasmas somos nós
assombrando
sonhos alheios.
terça-feira, 15 de julho de 2014
Sol da tarde calmo no inverno
Sol da tarde
calmo
no inverno
jogos de luz e sombra
na calçada à frente
enquanto eu aguardo o almoço
lembrando do meu
filho Glauco.
sábado, 12 de julho de 2014
sexta-feira, 4 de julho de 2014
Transeuntes em marcha
Transeuntes em marcha
determinados
apressados
passos apertados
o trabalho espera
o compromisso espera
avançam, rápidos
sem parar
e nem percebem
naquela velocidade
as folhas que caem
no Campo de Santana.
determinados
apressados
passos apertados
o trabalho espera
o compromisso espera
avançam, rápidos
sem parar
e nem percebem
naquela velocidade
as folhas que caem
no Campo de Santana.
quinta-feira, 12 de junho de 2014
A dança de Ogum
para ler conjugado
com este
Toca o atabaque
descalço
na areia
o Orixá
em corpo de menino
celebra
a guerra.
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Um verso para a classe trabalhadora
um verso
para a classe trabalhadora
é pouco
toda uma epopeia
ela merece
não pela pena do poeta,
decerto
mas pelas suas mãos
calejadas de operário
terça-feira, 10 de junho de 2014
De tantos caminhos
Seria coincidência
que de tantos caminhos
escolhêssemos aquela rua?
logo aquela
onde toda pedra, asfalto
e pista
casas e prédios
e bares
onde tudo lembra
logo aquela.
domingo, 8 de junho de 2014
sábado, 7 de junho de 2014
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Urbano
Vertical sobe o prédio
na vertigem
de concreto e aço
de superfícies espelhadas
e
alumínio
e caras amarradas.
quarta-feira, 28 de maio de 2014
O verde do semáforo
O verde do semáforo
azulado
como o halo
da lua
astro cá sobre o
trânsito
sinal verde, ultrapassagens
que a vida cede.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
Blues do ônibus
para ler conjugado
com este
Dos momentos tristes
(e já vivi muitos)
é dos piores
este, por exemplo:
o abrir de olhos no ônibus gelado
escuro
e
silencioso.
Desta forma:
cansados como estamos, pegamos
no sono
mas ao acordar
estamos lá,
no ônibus
voltando para
casa
e é tudo gelado
e silencioso.
A sensação é estranha
confusa
e tentamos nos recompor,
esfregar os olhos
olhar pela janela.
Porém
nada afasta o silêncio,
nem o frio do ar-condicionado
nem o escuro do ônibus apagado.
Vamos rolando pela estrada
querendo voltar a dormir
mas, despertos
seguimos viagem
e é tudo
silencioso, frio
e escuro.
segunda-feira, 21 de abril de 2014
Ouça isto...
Para Glauco Affonso Tejo
21/ 03/ 14 - 13/ 04/ 14
Filho Amado
Se é verdade o que dizem
disso do corpo acabar
mas infinito ser o espírito
então
ouça isto...
não lembrarei de você apenas
o primeiro ultrassom
você e seu irmão pequenas manchinhas
no útero da mamãe
nem dos beijos que eu dava, toda noite,
na barriga que crescia
não lembrarei de você apenas
a hora do parto
-daquelas emoções
únicas na vida-
você calmo e sereno
ao contrário do xará da Ilíada
nas mãos da enfermeira que lhe aplicava
os primeiros cuidados
não lembrarei de você apenas
o susto de te ver coberto
de fios e instrumentos que apitam
e a ansiedade de olhar as máquinas
que monitoravam teus sinaizinhos
não lembrarei apenas
da vigília, em pé, diante da incubadora
acompanhando preocupado
as máquinas
que monitoravam teus sinaizinhos
não lembrarei apenas
que costumava acarinhar, suavemente,
com a ponta dos dedos,
os cabelinhos de sua cabeça
não lembrarei apenas
das pequeninas vitórias diárias
- já voltou pro leite
- já está mais gordinho
- já respira melhor
às quais, pais iludidos, nos
apegávamos
não lembrarei apenas, filho,
que seus curtos 23 dias de vida
trouxeram para nós emoções jamais vividas
da esperança à dor, da ansiedade à fé
angústia e confiança
e o amor incondicional, que só quando somos pais conhecemos
tampouco lembrarei apenas
daqueles momentos depois
(e esse "depois" é o eufemismo
mais triste jamais posto em um verso)
de como o pequeno caixãozinho de criança
era enorme para você
de como chovia pesadamente
no caminho para a cremação
de como dói olhar o quarto com dois berços montados
e saber que um deles estará sempre vazio
ouça isto...
lembrarei sempre de tudo
mas a lembrança principal, é esta:
dos seus olhinhos se abrindo
naquele último dia
brilhantes e escuros, como os meus
parecendo me reconhecer
parecendo
sorrir
e, sorrindo e brilhando,
emocionando seu pai.
Esse foi o último dia.
Na manhã seguinte, o telefonema
e o domingo todo de lágrimas.
Se é verdade o que dizem
disso do corpo acabar
mas infinito ser o espírito
então
ouça isto...
velava o seu sono
em sua redoma de prematuro
possa você, agora,
das paragens celestes onde se encontra
(se é verdade o que dizem)
possa você, agora
velar
o sono
do seu pai.
quarta-feira, 9 de abril de 2014
Da dificuldade da poesia
Hoje foi bom:
um haikai
e um poemeto.
Às vezes é preciso
a vida
inteira
para isso.
Montanhas são quebradas
dinamitadas, perfuradas
escavadas
e só encontram um
pequeno veio
de esmeraldas.
Também vivemos enormidades
e, anos depois,
da ferramenta
de minerador
só brota
um versinho.
quarta-feira, 19 de março de 2014
sábado, 15 de março de 2014
Alguns versos eu queria deixar ocultos
alguns versos eu queria deixar ocultos
apagá-los
esquecê-los
como a uma civilização
antiga
há muito extinta
ou então como essas
estrelas
cujo brilho, já apagadas,
ainda nos chegam.
contudo
não posso fazê-lo.
dolorosos que sejam
-e é daquela dor sem nome-
estão aqui
fizeram parte
é toda uma
história.
sexta-feira, 14 de março de 2014
Mesmo que para isso precisem pagar
ela diz
homens que vão atrás de prostitutas dão nojo
é, penso
há homens que dão nojo
muitos políticos, piratas
saqueadores e estupradores
genocidas
pastores e padres, banqueiros
decerto, donos de empresas
de ônibus
barões da mídia
sindicalistas pelegos
burocratas stalinistas
toda a malta toda
isso causa nojo, verdade
e ficamos verdes de enjôo
agora, aqueles que precisam de
atenção
de um belo boquete
de uma boa foda
(às vezes não tão boa, se o relógio está correndo)
que precisam
se sentir vivos
tocar e ser tocados
ouvir uma voz
que precisam de cor no dia cinza
mesmo que para isso
precisem
pagar
nojo, esses?
não, acho que não.
Vôlei de praia
que corpo era aquele, jesus
ao fundo areia e mar azul
enquanto ela
saltava, rebatia, sacava
a bola
a barriga se contraindo, suada
dourada toda
igual à
manhã
dourada, suada
suja de areia enquanto saltava
músculos ondulando
dourada ela toda
azul e areia ao fundo.
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