terça-feira, 27 de julho de 2021

A morte não vem correndo quando você chama


Poemas alheios

Charles Bukowski (1920-1994),
extraído aqui

Eu ia aos piores bares
na esperança
de ser morto
— mas tudo que eu conseguia
era ficar bêbado
e, pior,
até os donos de bares
acabavam gostando de mim.

Então eis-me tentando
ser empurrado no abismo
mas tudo que conseguia
era bebida grátis
enquanto por aí
em uma cama de hospital
algum pobre-diabo agonizava
espetado de tubos
e lutando pela vida.

Ninguém me ajudaria a morrer
e a bebida continuava vindo, 
o dia de amanhã me aguardando
com suas garras de aço,
seu incômodo anonimato,
suas dúbias incertezas.

A morte não vem correndo
quando você chama
— mesmo que de um castelo
brilhante,
ou de um farol no oceano,
ou do melhor (ou pior)
bar da face da Terra.

Essa impertinência
faz apenas com que
os deuses hesitem
e retardem.

Perguntem para mim:
já tenho 
72.


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