quarta-feira, 23 de junho de 2021

Meu coração se tornou capaz de muitas formas



Poemas alheios

Capítulo XI do "Tarjuman al-Ashwaq",
do Shaykh al-Akbar [Grande Mestre]
Ibn al-Arabi
a partir da versão em inglês 
de R. A. Nicholson

Pássaros nas árvores
se somam ao meu lamento.

Silêncio! Não reveleis com vosso canto
meus secretos anseios e pesares. 

Falo com ela na véspera, em voz chorosa
de amante apaixonado.

Os espíritos me apontam os dedos 
e isso me aniquila,

atormentado de desejo
e paixão insatisfeita.

Onde, as promessas de Jam' e de al-Muhassab?
Onde, de Dhát al-Athl e Na'mán?

Rodeiam meu coração a cada momento
em amor e angústia,
abalando meus pilares.

Mesmo o melhor dos homens
beijou a pedra da Caaba,
ainda que profeta fosse.

E o que é o templo comparado
com a dignidade do homem?

Juraram não mudar
mas ela não mantém promessas. 

E das coisas mais maravilhosas é ela,
como uma gazela em véus

apontando o caminho com seus dedos incisivos
e olhos brilhantes.

Uma gazela cujo pasto
está no lado esquerdo do meu peito. 

Que assombro! Um jardim
em chamas.

Este meu coração 
que se tornou capaz de muitas formas:

— é um pasto para as gazelas
e um mosteiro cristão,

templo para idólatras
e Caaba do peregrino

as mesas da Torá
e o livro do Corão.

Sigo a religião do amor:
por onde quer que seus camelos sigam
lá estão minha religião e fé.



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